A partir deste momento a nossa
aventura ganha um novo sabor. O trecho entre Puerto Maldonado e Cuzco é, sem
dúvida, muito atraente e perigoso e desafiar a montanha é algo que agita a
nossa adrenalina.
Aparentemente a distancia não chega
a nos assustar – aproximadamente 530 km – mas quando se trata de subir
montanhas o tempo a ser gasto é o dobro. Saímos do Hotel as 8h da manhã e pela
experiência adquirida em outras viagem, sabíamos que não poderíamos perder
tempo entre uma parada e outra.
Logo na saída tivemos problemas com
o abastecimento das motos e do carro. A maioria dos Postos de Gasolina estava
sem combustível e entre a saída de um posto e outro, somada a ansiedade do
líder em pegar a estrada, acabou que nos perdemos um dos outros. Fico me
perguntando, se não tem gasolina no Peru, deve ser por isso que a gasolina no
Brasil ameaça subir pra R$ 3.15, ou isso, ou a Dilma continua a nos
roubar na cara-dura.
O Haroldo com a carretinha demorou a
sair do primeiro posto e já não nos encontrou. O Bessa precisou olhar algo na
moto e quando levantou a cabeça, já estava sozinho e o Abdiel aceitando ajuda
de um nativo decidiu segui-lo e, claro, esqueceu os outros pra trás e o único
que percebeu seu movimento foi o Abdiel Filho que conseguiu segui-lo até certo
ponto quando ele entrou no posto sem aviso prévio e mais um se perdeu. Isso
porque em tese do meu ponto de vista, líder deveria ser alguém capaz de ser
seguido e não alguém que some na buraqueira, mas enfim...
Mais de quinze minutos se passaram
até que todos espontaneamente decidiram se dirigir à saída da cidade e aos
poucos foram se encontrando. O Líder Divino não estava errado, esses
acompanhantes é que são devagar!!!!
Finalmente lá estávamos na estrada e
logo começaram a aparecer as primeiras curvas e a tornar a viagem mais
emocionante. As primeiras horas transcorreram sem qualquer transtorno até que o
Bessa passou uma lombada sem atenção e no impacto o apoio do GPS quebrou e ele
voou pelos ares. Olha e eu que achava que já tinha visto de tudo nessa vida,
mas GPS voador essa é primeira vez.Tivemos que parar e aguardar as suas novas
acomodações.
A estrada estava muito boa, mas a
cada novo povoado começavam as lombadas e não são poucas, ocasionando novo
atrasado na nossa programação. A cada nova lombada, eu pensava: Se eu pudesse
enfiava essas lombadas naquele lugar de quem colocou essas lombadas aqui.Quanto
mais subíamos mais a temperatura ia se alterando – Saímos de quase 35˚C para 6˚C
– a chuva começou a cair e junto com ela a velocidade média desenvolvida, pois
a pista ficou molhada e as curvas acentuadas, tão acentuadas que havia placas
na estrada indicando que nesses lugares seria aconselhavam buzinar para
orientar o motorista que viria em sentido contrário.A frase é – TOQUE CLAXON!!!
E eu pensava, é melhor tocar o claxon, e cuidar pra
gente não virar omelete!
Havia muita pedra que rolou das
montanhas e das quais tenhamos que desviar e ficar de olho pra cima porque a
qualquer momento poderia ocorrer outro deslizamento, além de que em alguns
pontos a água cobria a estrada se misturando com as pedras.
A tensão era imensa exigindo
concentração total na estrada. Para piorar, a neblina se intensificou e quase
não se enxergava nada a frente. A velocidade foi reduzida a menos de 20Km/h.
Nesse trecho ocorreram dois graves acidentes na estrada e a ultrapassagem se
tornou difícil já que as duas pistas foram comprometidas.
Na parte mais alta da montanha ainda
encontramos neve na estrada, com pista escorregadia já que parte delas já se
tornara gelo. Tanto o Abdiel quanto o Bidinho chegaram a deslizar na pista e
com muito esforço conseguiram manter a moto em equilíbrio.
O frio aumentou consideravelmente,
com a temperatura caindo a menos de 6˚C, e chuva caindo intensamente,
dificultando nossa visão e tornando a situação, em alguns momentos, ainda mais
difícil.
Com tanto atraso não tivemos tempo
para o almoço e tudo o que encontramos na beira da estrada foi maça estragada e
banana e foi o que conseguimos comer, além de algumas barrinhas de cereais.
Uma situação que nos deixou muito
preocupados foi a autonomia da moto do Bessa que por duas ocasiões teve que
utilizar a gasolina que transportamos para casos de emergência. Essa
preocupação se justifica porque ele vai retornar de Cusco a Porto Velho sozinho
e terá que ter muito cuidado para não ficar por pane de gasolina.
O ponto mais alto de chegamos foi
4.725 MSNM (metros sobre do nível do mar) e nessa parada estratégica para tirar
fotos alguns dos integrantes ficaram tontos e precisaram de um tempo para se
recuperar.
Depois de tantas emoções,
finalmente, quando já estávamos descendo a menos de 2.000 m de altitude a chuva
parou e fomos brindados com um lindo arco-íris e ao cair da tarde o por do sol
no horizonte se apresentava cheio de cores e beleza incomparável.
A distancia aqui se mede em tempo e
quando faltavam 40 minutos para chegarmos em Cuzco nos deparamos em uma encruzilhada.
O Abdiel, como sempre, se aproximou do cruzamento e decidiu fazer uma conversão
à direita e se distanciou do ponto critico e claro, com exceção do Bessa que o
seguiu, os outros foram em sentido contrário e na estrada não tinha como
retornar, a não ser a moto (HD) que apesar da dificuldade conseguiu retornar,
porém, o carro teve que continuar até encontrar um lugar seguro para fazer a
manobra.
Nesse local o Abdiel Filho informou
que, já a algum tempo, vinha descendo sem os freios traseiros e se equilibrando
com muita dificuldade.
Já eram 8h da noite e, ali, no
escuro, tivemos que colocar a moto na carretinha. Vocês não imaginam a aventura
que foi. Todos tiveram que participar dessa empreitada. Na falta de lanterna só
deu os celulares sendo usados. Uns procuravam pedra pra calçar a carretinha e
outros desmontavam a carroceria do carro atrás dos materiais para prender a
moto encima dela. Haroldo e Bessa, com muita porrada, desconectaram a ramba
debaixo da carreta e preparam a subida da moto.
É claro que no meio de tanta tensão sempre sobra alguma coisa engraçada. O carro estava estacionado perto de uma vala de concreto relativamente grande e o tempo todo tínhamos que alertar um e outro para que tomassem cuidado e, - não deu outra - de repente nós vimos um cabelo loiro voando e um baque - corre todo mundo pro mesmo lugar e lá estava a Monica toda encolhidinha na vala. Difícil foi não rir daquela situação!!!
O Abdiel, com toda a sua
experiência, conseguiu colocar a moto em cima da carreta e depois fixá-la com
toda segurança para o restante da viagem. Quando a moto já estava bem acomodada
o Haroldo foi escolhido para segurar ela lá em cima enquanto as cordas eram
amarradas.
O maior problema foi a fome,
estávamos todos desesperados e alguns como, eu e o Bidinho, com Cetose e isso
só aumentava o estresse e o desconforto. Ufa!!! Agora estávamos aptos a
continuar. Chegamos à cidade as 10h da noite e depois de algum tempo decidimos
contratar um taxi para nos levar ao Hotel. A exaustão era tanta que só nos
imaginávamos no quarto deitados em lençóis macios!!
E, mais uma fez o líder divino
seguiu em frente sem olhar para trás, deixando Haroldo sem condições de
manobrar a carretinha em tempo hábil para vê-lo seguindo o taxi e,lógico, não deu
outra, eles se perderam.
Chegamos ao Hotel debaixo de chuva,
cansados, irritados e sem comunicação com os demais integrantes da equipe e que
ocupavam a Hilux (Haroldo/Abdielzinho e
Monica), vocês podem imaginar a alegria desse grupo!!! Com muito boa vontade
eles finalmente conseguiram se comunicar conosco na recepção do Hotel e depois
de mais alguns minutos se juntaram a nós e com a fome que estavam quase comeram
o fígado do Abdiel.
A recepcionista do Hotel, muito
gentilmente, percebendo o nosso cansaço e desanimo se prontificou a ir
pessoalmente ao Mac Donald comprar alguns sanduíches que devoramos literalmente
e finalmente pudemos descansar, sem hora para levantar, Graças a Deus.
Amanhã será um outro dia.
Boa noite a todos.